domingo, 1 de janeiro de 2017


No meu claustro interior,
onde estou a sós comigo,
gasto no ócio o meu tempo,
prostrado inutilmente.

O desânimo domina
toda esta minha vida.
Nada o meu corpo produz,
mesmo orar eu não consigo.

Clamo a Deus em pensamento,
pensamentos fugidios;
minha alma habita um corpo
vivo, mas sem energia.

Em meu claustro oprimido,
no qual sou meu próprio algoz,
estou privado de vida,
à espera de mi’a morte.


Co’a Palavra Deus criou o universo,
com palavras o poeta cria versos.
Salvo o homem foi ao encarnar-se o Verbo,
o poeta empresta a voz aos oprimidos.
Deus somente é o Grande Demiurgo,
que ao poeta concedeu ser criador.


sexta-feira, 30 de dezembro de 2016


Já não existe mais quem fale pelo povo,
pulverizou-se o coletivo em tantos egos;
até o poeta, voz do povo, se calou,
não expressando mais a angústia dos sem voz.


PARIS NA GRANDE GUERRA, SEGUNDO DOS


As ruas de Paris escur’estavam,
o silêncio por elas se espalhava.
No céu havia um tímido luar
que pouco iluminava os edifícios.

Aquela chamada cidade-luz
buscava esconder-se na penumbra.
No interior das tantas construções,
a luz era contida pelos feltros.

Havia multidões de prostitutas
e nos cafés ouvia-se alegria,
porém esta era desesperadora,
pois amanhã a morte era certa.

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Nas rua, caminhões qual procissão
fúnebre, com mortos ‘inda a haver –
imberbes jovens, adultos e maduros –
que tinham por sudário a poeira.


JOHN DOS PASSOS EM PARIS


Em todas a esquinas de Paris
sorriem-me recordações diversas
e o tempo, infernalmente confundido,
não sei se é presente ou passado.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016


                                        de Archie MacLeish

A verdadeira amizade
é feita na juventude
e que a gente conserva,
mas também não a conserva.
Sempre será amizade,
pois no passado o era,
vivendo em nossa lembrança.
E, quando acaso, a vemos,
volta-se aonde paramos.



A minha poesia não é minha,
pois assim que a componho, logo a olvido,
não decorando versos ou palavras,
da minha criação me esquecendo.
E cada vez que leio os meus poemas,
eu faço-o como fosse a vez primeira,
admirando a arte do poeta,
que ora tenho frente a meus olhos.